CRESCER
Crescer é um processo que envolve alterações dos órgãos internos e resulta em modificação nas formas do corpo, transformando crianças e adultos.
É muito difícil de ser aceito pelas crianças e, às vezes, pelos próprios pais.
Ninguém cresce da mesma forma e no mesmo ritmo, isso porque o crescimento é resultado da interação de dois fatores: os genéticos e os ambientais. Os fatores genéticos, herdados de nossa família, marcam as principais características do corpo: a cor dos olhos, cabelos, quantidade de pêlos. Assim, cada um de nós nasce com um potencial genético de crescimento, uma altura até onde podemos chegar. Desenvolvê-la ou não, dependerá de outros fatores.
O esporte por exemplo feito com prazer e dentro dos limites de cada um, contribui para a saúde, colaborando com o crescimento, mas nunca fazendo crescer.
O crescimento está diretamente relacionado com o estado de saúde geral das crianças. Doenças crônicas como asma, nefrite ou diarréia podem interferir no desenvolvimento e fazer com que a criança estacione durante o período crítico. As doenças crônicas ou recorrentes debilitam a criança, fazendo com que não se desenvolva como deve. No caso de anemia crônica, por exemplo, quando há uma queda acentuada de hemácias no sangue, a oxigenação dos tecidos fica comprometida, já que o transporte do oxigênio é feito por essas células. Isso pode afetar o crescimento.
A deficiência alimentar grave também, é prejudicial. Ao contrário da desnutrida, a criança que tem uma alimentação variada possibilita que suas células recebam todos os elementos e trabalhem em potência máxima.
CARINHO, AFETO
Tão importante quanto à boa alimentação, o afeto, é ingrediente fundamental para que a criança cresça.
Muito da estimulação para o crescimento chega até o cérebro através dos órgãos dos sentidos. Assim, tem mais chance de alcançar o máximo de seu potencial de crescimento a criança que é tocada e tratada com carinho.
Esse aspecto é tão sério que meninas e meninos traumatizados pela perda repentina dos pais podem parar de crescer momentaneamente. É a Síndrome de nanismo psicossocial. Um quadro em a falta de afeto pode bloquear a produção dos hormônios, entre eles, o hormônio do crescimento.
Quando a autoestima está em jogo, é muito comum que o adolescente passe a se comparar com os colegas. Quem cresceu mais se sente o rei da turma. Quem ainda não chegou lá passa a ser vítima de piadas e brincadeiras. Acostumado a lidar com adolescentes no dia-a-dia, o médico Marcos Pragana dos Santos faz uma analogia bem-humorada: Eles parecem estar numa corrida de Fórmula 1. Todos torcendo para que os carros dos outros corredores quebrem. Durante a puberdade, quando os hormônios sexuais modificam a composição corpórea e fazem com que haja uma maior liberação do hormônio de crescimento, acontece o chamado estirão puberal ou pulo de altura.
Diferente para meninos e meninas, o estirão também varia de forma ampla, na velocidade e duração, entre adolescentes do mesmo sexo. Isso significa, esclarece o doutor Pragana, que comparar a altura de uma criança com a de outra da mesma idade não faz sentido. Uma pode ter entrado na puberdade mais cedo que a outra. Quem é o mais baixo hoje pode ser o mais alto amanhã e vice-versa.
Nas meninas, a maior velocidade do estirão acontece no começo da puberdade, por volta dos 12 anos e meio, quando elas podem crescer até 8 centímetros por ano. Nos meninos, o grande salto de altura vem mais tarde, por volta dos 14 anos, quando eles chegam a espichar até 10 centímetros por ano. Mas e se no final das contas o adolescente se tornar um adulto com pouca altura? É uma possibilidade. Daí a importância de os pais ensinarem os filhos a conviver com essa característica e até, por que não, encará-la com humor.
HORMÔNIOS
Boa parte das crianças baixinhas não tem problemas de saúde. São pequenas por sua herança genética. O problema se dá quando, contrariando essa premissa, os pais optam por medidas drásticas para mudar a altura dos filhos.
Já vi muita gente querer crescer ou fazer o filho crescer a qualquer preço, diz Márcia Nery (endocrinologista).
Parte de uma sociedade que valoriza a altura, esses pais normalmente se deixam influenciar por padrões rígidos. A filha que quer ser modelo, o filho que gostaria de jogar vôlei. ..argumentos.como esses passam a ser suficientes para que as crianças se submetam a tratamentos longos, caros e, muitas vezes, ineficazes. Há algum tempo, pensava-se que o hormônio de crescimento era a panacéia. A saída para todos os casos. Penso que, em geral, ainda há um abuso na prescrição do hormônio. Chega-se até a atrasar a entrada da criança na puberdade e a administrar hormônio de crescimento para que ela chegue ao estirão com alguns centímetros a mais. Um recurso que, segundo a médica, deveria ser útil apenas em casos graves.
Evelyn Eisenstein (médica de adolescentes)
Marcos Pragana dos Santos (pediatra)
Márcia Nery (endocrinologista)
Hospital das Clínicas (São Paulo)